Dos
Vários serviços que prestei em Mueda, como Sargento de
dia, este que vou contar foi talvêz o mais marcante e que nunca
esqueci.
Encontráva-me, já
noite, na casa da guarda a falar com um preso, do recrutamenro da
provincia, e que gozava de determinadas regalias que nunca
percebi, quando recebi
indicação para ir ao gabinete do Oficial de dia.Quando
entrei deparei-me com o capitão Gaspar,comandante da artilharia,
sentado atrás de uma
secretária, e mais um soldado, que eu não conhecia,
sentado ao seu lado esquerdo.Depois da saudação militar
perguntou-me
- Como se chama?
- Monteiro
- O que costuma fazer durante a noite?
- Rondas e continuar acordado
- Então vamos beber um copo e falar sobre um tema a três.
De repente apresenta a sua
garrafa de wisky e coloca dois copos, para mim eram mais dois baldes
que copos,e enche ( cheios mesmo) e diz:
- Isto é para o nosso principio de noite.
- Sou incapás de beber tudo, mesmo que durante a noite, retorqui
- Nunca se deve dizer NÃO
Então começa a contar a razão da presença do soldado.
Este "gajo" foi-me entregue esta
manhã, porque. na noite anterior. foi apanhado a dormir no seu
posto de vigia e como
ele pertence á minha
companhia, já sabe que o castigo que lhe será
aplicado nunca irá manchar a sua caderneta militar, que tanto
precisa para
arranjar emprego, quando terminar
o serviço militar e,voltando-se para o soldado, diz-lhe:
- Aqui o nosso Furriel, que
pertence a uma companhia de operacionais, anda no mato e quando
está no quartel gosta de se sentir seguro, porque
outros estão a vigiar,
coisa que tu deverias fazer, - dito isto dá um valente soco no
soldado que o faz cair da cadeira, e perguntou-lhe:
- Já sabes que a tua
caderneta militar irá ficar limpinha, mas a tua cara NÃO,
porque no fundo o que tu merecias era pura e simplesmente PRISÂO.
Durante o dialogo. o
capitão Gaspar olhava para mim com o copo levantado ao geito de
saudação, lá ia bebendo e olhando para a cara do
soldado
e as perguntas recomeçaram:
- Então conta lá quantos estávam no posto de vigia?
- 3
- E quantos estávam a dormir?
- 3
- E quem deveria estar acordado?
Eu meu capitão, retorquiu o
soldado, que mesmo esperando pelo movimento brusco do capitão,
não teve tempo de evitar um soco que agora lhe apanhou
os lábios.
Cada vêz que eu olhava para o soldado, a sua
cara já estáva disforme e ensanguentada, da minha
parte já só queria que aquilo acabasse depressa,
no entanto aquilo só acabou quando os dois acabámos com o wisky.
O soldado nunca mais o vi, o capitão Gaspar,
soube, nos encontros em Chaves, que tinha falecido.
José Fernando Pascoal Monteiro ( Ex-Furriel
Miliciano )