O Pita
António Machado Pita, era uma camarada do meu grupo de combate. Não era da minha secção,
mas era considerado pelos graduados como elemento ponderado e seguro de si. Bem constituido fisicamente,
sempre aguentou, sem lamentos, as agruras da vida no mato. Não era muito comunicativo, mas sempre se integrou,
perfeitamente à vontade, na vivência do grupo. Nas noites no mato, sempre mal dormidas por mim, sempre que via
o Pita de vigia, ficáva com sensação de segurança, pois sabia que ele cumpria as ordens dadas, da parte dele não
havia baldas.
Numa das operações de assalto a uma base dos " Frelos ", cujo nome o tempo foi levando da memória,
já na aproximação, saimos da zona de protecção da mata serrada para o trilho, pois o corta-mato era muito barulhento.
O trilho estava muito marcado por pégadas e o guia já nos tinha avisado que ele iria até aá base. Eramos dois grupos,
reforçado com mais alguns camaradas. Toda a coluna parou para confirmação das secções que iriam fazer o envolvimento,
que não seria alargado por causa da envolvência do terreno. Recomeçamos a andar, com bastante cautela e muito
devagar. A minha secção era a segunda da coluna, de repente ouvem-se tiros e todos nos atiramos para o chão.
Como contágio, todos disparamos até nos apercebermos que o tiroteio era todo de G3. Levantei-me, como trilho
fazia numa ligeira curva e a mata era densa, não via a cabeça do coluna, caminhei um pouco e então vi um
guerilheiro , já morto, e uma metralhadora PPSH nas mãos do nosso camarada Pita.
Perante tal situação, já não tinhamos a surpresa pelo nosso lado e como poderiamos ter uma má
recepção, foi decidido inverter a marcha e desta vez a corta-mato, que era muito penoso mas muito
mais seguro.
O Pita nasceu numa localidade nos arredores de Chaves, onde o nosso batalhão se formou. Depois da
desmobilização foi para o Canadá, onde se casou com uma compatriota dos Açores.
Numa das nossas reuniões anuais em Chaves o Pita apareceu, foi recebido com entusiasmo, e como não
podia deixar de ser o episódio aqui contado foi alvo de comentários entre nós. Sempre houve duas versões e
a única certeza é que o Pita era o segundo da secção da frente. Uma das versões, a do primeiro camarada que
ia na cabeça da coluna, foi que a sua arma ser encravou no momento que viu o guerrilheiro, a segunda,
confirmada por alguns, é que o Pita, perante a hesitação do camarada, disparou de imediato. Da parte
do Pita, continua a dizer que teve muita sorte pois o guerrilheiro ficou surpreendido com a presença
de militares Portugueses muito perto da sua base.
Linda-a-Velha, Outubro de 2017
José Fernando Pascoal Monteiro ( Ex- Furriel Miliciano )
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