Os meus Pais ( Ou os nossos Pais )
Sempre vivi em casa dos meus Pais. Em Janeiro de 1966, com o serviço militar, fui
para Tavira.Era a primeira vez que me ausentei de casa e do ambiente familiar.Nesse ano,
em Dezembro e em Mafra, fui mobilizado para Moçambique.Fui para casa, e quando lá cheguei
os meus Pais já sabiam da noticia, dada por um familiar que encontrei no caminho.O meu Pai estáva
desolado e a minha Mãe completamente em pranto, inconsolável.
As ausências de casa continuaram, como continuou a formação militar até á cidade de Chaves, onde
formamos batalhão.Sempre que podia vinha a casa para estar com os meus Pais e , também com os
meu amigos.Cada visita, e cada saida, encarei-a sempre como uma despedida.Na semana anterior
ao meu embarque para Moçambique , não tive coragem para vir a casa.Como encarar uma despedida
daquela dimensão????. Nunca estive preparado psicologicamente para isso.
Chegou o dia do embarque no navio Niassa, na Rocha Conde de Óbidos.Os meus Pais sabiam e
moravam relativamente perto.Lá estávam alguns amigos e familiares, mas os meu Pais não marcaram
presença.Como eu os compreendi perfeitamente, aceitando tal atitude.
Mais tarde, numa carta da minha mãe, soube que o meu Pai tinha saida de casa com a intenção
de se despedir de mim, e que não tinha conseguido
Grande parte da minha geração foi enviada para a guerra. Enfrentámos muitas dificuldades, perigos,
cansaço fisico e mental. Quando recebiamos correspondência, era como se voltassemos a estar com
os nosso Pais, retemperavamos forças.
Falamos muito de nós, combatentes.E o outro lado, os nossos Pais, como eles sofreram, não só
pela longa ausência, mas sobretudo a ansiedade constante por saber dos perigos que corriamos.
Como eles se sentiriam ao lêr nos jornais as baixas, por morte ou invalidez ????????
Se foi duro para nós combatentes, sendo muito pior para aqueles que lá ficaram para sempre, para
os nossos Pais foi igualmente duro.Só foi compensado pelo dia de chegada, ai sim lá estavam eles
com grande alegria e grande data para não mais esquecer.
Linda -a -Velha, Setembro de 2014
José Fernando Pascoal Monteiro
Ex- Furriel Miliciano
Voltar ao cantinho do Monteiro