
Algumas recordações do período militar
Faz hoje,11/01/2015, 49 anos em que a minha vida deu uma volta de 180 graus. Grande
parte dela é idêntica à que
o José Monteiro relatou, com
algumas alterações que exponho.
Após o
termo da recruta e da especialidade no CISM,I o José Monteiro rumou à E.P.I.
em Mafra e eu ao BC5 em Lisboa, de resto o
percurso foi igual até Mocimboa da Praia.
No que
diz respeito á coluna de Mocimboa da Praia para
Mueda, eu apeei-me ficando
pelo
Sagal. Depois da saída de Mueda o Monteiro navegou até à Beira e eu fiquei-me
por
Nacala, de onde segui para António
Enes onde ficou a sede de
Companhia e eu
para o
Líupo que fica a 75 Km.
Em Outubro
voltei por mais 70 dias a Cabo Delgado e de regresso novamente ao Líupo.
No
princípio de 1969 fui embarcar novamente a Nacala com destino a LM ficando
algumas
horas na Beira. Na 2ª feira de Páscoa
fui parar por 35 dias á Ilha da Xefina.
Nunca
com,i tão bem e barato, em toda a minha como
na Xefina onde tive os 35 dias de
repouso
antes de embarcar no Paquete Império Com destino a Lisboa. Foram umas férias
merecidas.
Agora volto
a trá,s e vou falar o que a memória deixar dos tempos
passados em Tavira.
Conheci
no Comboio um enfermeiro diplomado que muito me ensinou
a viver em grupo
e mais
3
camaradas de Torres Novas, esqueci o nome deles . Um ficou conhecido por Braço
de Ferro,
por ter
partido um braço e ter feito o resto da recruta com o braço engessado.
Não
sei se os camarada de 66 estão recordados
que servimos de cobaias no que diz
respeito
á chamada injecção na espinha. Nós levamos no braço e não sei o resultado,
mas
creio não ter sido injectada a mais ninguém,
e fomos escolhidos por haver muitos
extractos
sóciais. Logo após a injecção, o enfermeiro
levou-me a beber um balde de
vinho
branco para cortar o efeito da injecção na tasca em frente á Porta de Armas.
Nunca
tinha bebido vinho sem ser às refeições.
Lembro
também, as sessões de Ordem Unida, as
marchas militares as paradas etc., a
Atalaia, as
vendedeiras que apareciam em todo o lado a vender as sandes de mortandela, as
águas e os sumos.
Lembro
também o Capitão Caniné, que foi o único oficial que era homem e Militar, o Alferes
Figueiras
que durante
a recruta era um Militarista e que mudou totalmente na Especialidade
tornando-se homem e Militar.
Lembro
também
o comandante do CISMI, com a sua
Jaqueta enfemenada que mais parecia
um toureiro
ou o
porteiro do Hotel Tivoli em Lisboa. Creio que as poucas vezes que o vi, só
o recordo com
com a
jaqueta (não chamo aquilo nem blusão nem dolmem).
Senti
muita raiva e ódio, á situação que era obrigado a viver recebia de pré dois ou
três escudos
mensais.
Eu que
deixei de viver com os meus pais aos 11 anos para ir trabalhar para fora da
aldeia onde
ganhava
o
suficiente para as minhas despesas e depois ver-me naquela situação foi mesmo demais humilhante.
Recordo,
também, o cheiro nauseabundo a polvo seco
e arroz trinca que vinha do refeitório.
Quero
ressalvar aqui, os dias em que o Capitão Caniné era o Oficial de Dia, em que o
refeitório apresentava
o
asseio diferente para melhor e o rancho era bem melhorado e o arroz deixava de
ser trinca.
Nesses dias
ninguém saía com fome. (também não se comia polvo seco).
Claro
que haverá muitas outras situações que talvez recorde mais tarde.
Janeiro de 2015
António Nascimento, ex-Furriel Miliciano