Machambeiros
Fora do perimetro militar de Mueda, tudo era considerado zona de guerra.A população que existia no
aldeamento, ao lado do quartel, era considerada amiga.
Já estáva há algun tempo na zona, já tinha feito algumas operações e patrulhamentos, enfim já não era
"checa" na matéria.
Tenho bem presente o facto em si, no entanto já não me recordando de alguns pequenos pormenores,
de menor importância, recorri á excelente memória do meu ex-camarada de pelotão e amigo, José Fernandes Duarte.
Mais uma vêz saimos do aquartelamento, passando pela aviação em direcção á picada que vai para
Nangololo e Miteda. Já tinhamos passado alguns postos de água, que eram todos númerados e célebres, quando
fletimos para o lado esquerdo, começando a entrar no mato.Lá continuámos, na formação habitual, quando
encontrámos um trilho, pronuncio de passagem de pessoas. A nossa atênção redobrou e a marcha tornou-se
mais lenta, quando de repente o camarada que ia na cabeça da coluna, o Pita, vendo pessoal a aproximar-se
despejou uma rajada de G3 sobre eles.
O Pita, era um soldado que não viráva a cara, decidido e sempre atendo á envolvência do terreno, fez o que
tinha que fazer.A tensão, como era de esperar, encontráva-se ao máximo.Aproximei-me e presenciei
várias pessoas, já mortas, e uma criança que ali ficou, mas que não tinha sido atingida.Só vimos machambeiros,
guerrilheiros, se os houve abandonaram o local imediatamente sem dispararem, pois nas mesmas circunstâncias,
os civis eram normalmente enquadrados por eles.
Perante aquele quadro, e sabendo que mais tarde o pessoal da base, onde eles pertenciam , os iriam buscar,
decidi armadilhar o grupo e encetar o caminho de regresso.Quando já estávamos na picada, ouvimos um estrondo,
vindo do local onde tinhamos estado.Só podia sêr alguém da base inimiga, a querer recuperar os corpos.
Não voltámos para trás, não havia necessidade operacional e poderiam estar á nossa espera para nos emboscar.
Já no quartel, a criança foi entregue no comando do batalhão.
Muitos anos mais tarde, num dos encontros anuais do nosso batalhão, onde contamos sempre episódios vividos,
o meu amigo Duarte perguntou-me "lembras-te do do caso dos Machambeiros??", "lembro-me concerteza" respondi
com um olhar directo e uma voz melancólica.
José Fernando Pascoal Monteiro ( Ex-Furriel Miliciano )
Linda -a-Velha, Agosto de 2011
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