O Lopes era
Furriel Miliciano da minha companhia.Nasceu em Santa Comba Dão,
funcionário da CP.
Como todos
nós, foi apanhado pelo turbilhão da guerra
colonial.Conhecemo-nos em
Chaves, na formação do Batalhão, e ali cimentamos a nossa amizade. Não era muito
comunicativo, mas era um amigo sempre pronto a ajudar.
Já em
Mueda a algum tempo, alguns de nós iniciamos as nossas merecidas
férias e
o Lopes despediu-se , pois ia para Angola para junto de um familiar, apanhando
o avião correio para Porto Amélia ( Pemba ), e dali iniciar viagem para Lourenço
Marques ( Maputo ).
Entrámos na nossa rotina quando , á noite, soubemos que o
avião tinha sido atingido,
e que tinha saido para o mato um pelotão de uma companhia estacionada em Palma.
Passaram-se alguns dias e sem noticias do Lopes,
todos, em Mueda, temiamos o pior,
quando, via radio, de Palma veio a informação que tinham sido encontrados no mato, o Lopes
e o piloto, pelos militares e que tinham continuado viagem, cada um para o seu destino.
Passado tempo lá aparece o Lopes, junto de
nós e depois de abraços conta-nos
a aventura vivida.
Quando sairam de Mueda rumaram a Palma para deixar
um saco de correio para os
militares ali estacionados.O piloto voava um pouco baixo, junto à costa, quando, de repente,
o para brisas do
avião se enche de óleo.O piloto alerta que tinham sido
atingidos e que iria tentar
aterragem
forçada na praia, único local sem arvoredo.Assim fez e
com tanta sorte que os dois nada
sofreram e meteram-se no mato, pois ali seriam bastante facil de localizar pelas tropas da Frelimo.
O piloto de pistola na mão e o nosso amigo Lopes a carregar com
o saco de correio, estiveram
assim alguns dias até que foram localizados pelas nossas tropas.
O tempo foi passando, a nossa companhia acabou a campanha de Mueda e
rumou a Vila Coutinho, distrito de Tete,
até que em Abril do ano seguinte todos nós regressamos
á Metrópole, com pequenas
excepções dos que ficaram em Moçambique e do nosso
amigo Lopes que rumou a Angola, onde iria
começar nova vida.
Muitos anos depois, na nossa reunião anual em Chaves, soubemos
que o nosso amigo Lopes tinha
falecida em Angola, numa emboscada sofrida numa picada.
Onde quer que estejas, Flaminio Augusto Lopes, o meu abraço.Gostei de te conhecer.
José Fernando
Pascoal Monteiro ( Ex-Furriel Miliciano )