Estrada Mueda/Mocimboa do Rovuma,
1967 ou 68.No meu pelotão era eu que estáva habilitado a
montar armadilhas, pois tinha tirado
o repectivo curso em Tancos.Numa
das várias saídas, ao nivel de pelotão, para
patrulhamento e marcar presença militar, fui incombido,
pelo gabinete
de operações, de montar armadilhas nas proximidades daquela estrada.
Lá fomos nós pela
picada alguns quilómetros, quando deparei com um trilho que
atravessava a picada de um lado a outro.Local de passagem
era, pois estáva bastante
defenido e inclusivamente eram bem visiveis algumas pegadas.Era um bom
local, no entanto necessitáva de árvores, para colocar a
armadilha
e que também me servisse de
referência.Entrei pelo capim, sempre fora do trilho e acompanhado
pelo Vilas Boas, encontrei o que necessitáva a menos de 100
metros
da picada.Do lado direiro do
trilho existia uma pequena árvore e do lado esquerdo um pequeno
arbustro.Na pequena árvore ficou a granada enrolada a
cordão
detonante, ficando o fio, de
arame completamente baço, ligado ao arbustro.Acabada a montagem,
e já de volta, olhei para trás e reconheci que era muito
dificil
vêr ali qualquer coisa, a
não sêr para gente precavida e mesmo assim com muitas
cautelas.Chegados a Mueda, e como era habitual, depositei o desenho com
a localização da
armadilha no gabinete de operações.Regressados de novo a
Mueda, a vida militar continuou,com novas patrulhas e novas
operações.
Passado algum tempo, que
agora não preciso, mas seguramente alguns meses, novamente
o meu pelotão voltou ao local.Fomos pela picada
e quando avistei o trilho fui
pela mata dentro.Percorri metade da distância que tinha anotado e
estranhei não encontrar a árvore que eu tinha como
referência.O capim
já estáva mais alto
no entando, dando mais alguns passos reparei numa pequena árvore
que se apresentáva cortada a meio.Parei para pensar no que
poderia ter
acontecido e o meu olhar
continuava a observar o que me envolvia quando de repente vejo,
á minha esquerda, uma manta e um corpo.Aproximo-me e vejo um
corpo,
já em
decomposição, e uma manta cheia de amendoins.Era, com
certeza, um civil que ia, provavelmente, vender o fruto do
seu trabalho sendo apanhado no
turbilhão da
guerra.Voltámos novamente a Mueda e desta feita com novo
relatório, a contar o sucedido, com entrega no gabinete de
operações.
Hoje, cerca de 44 anos depois,
recordo este e mais alguns episódios que vou contando ao sabor
do tempo que passa.
Linda -a-Velha, 19 de Janeiro de 2011
José
Fernando Pascoal Monteiro ( Ex Furriel Miliciano )