Hoje à noite há petisco com música ao vivo
O batalhão Caçadores 1916, constituido em Chaves, espalhou-se por Cabo Delgado, Moçambique,
pelas localidades de Diaca, Sagal e Mueda, tendo a minha companhia, juntamente com a CCS, ficado
nesta última localidade. Eu com mais seis camaradas tinhamos por morada a flat ( Influência Inglesa )
número dois onde havia operacionais do mato e especialistas, entre eles o meu amigo vaguemestre
Francisco Ribeiro.
Era frequente haver grandes noitadas, quase sempre com pequenos petiscos e muita cerveja, para
aquecer a alma. Durante o dia fomos avisados pelo Ribeiro que a noite iria ser grande e para tentarmos
arranjar um abre latas. Ficamos curiosos pois as latas de conserva eram abertas com a faca de mato,
no entanto lá fomos à intendência, para o abastecimento de cervejolas, com passagem pelo PAD para
convidar o Furriel Afonso, que com a sua guitarra e a sua vós, nos acompanharia durante a noite.
A flat era dividida a meio formando dois quartos. No primeiro quarto, com quatro camas, duas eram
colocadas no segundo quarto e as outras formavam uma mesa com um tampo de madeira colocado por cima.
As cervejas, que tinham passado pelos frigorificos da messe, foram colocadas na mesa improvisada quando
o vaguemestre colocou algumas latas grandes, perto de um quilo. Eram todas vermelhas com caracteres a
amarelo. Ficamos muito surpreendidos e aproximei-me para melhor ver. Eram mesmo caracteres russos e
vi a designação de CCCP ( Antiga União das Republicas Soviéticas ).
Passada a surpresa entramos na normalização já com as latas a serem abertas ( Eram rojões ) juntamente
com as cervejolas. A noite segue já com algumas canções do Zeca Afonso e termina, como sempre terminou,
com o fado de Mueda, já cantado com a ajuda da cerveja, terminando quase em unissono com a frase
" VAI PARA O MATO MALANDRO ".
No outro dia vim a saber que os rojões tinham sido apanhados, juntamente com muito armamento, pela
companhia 1712, sediada no Sagal e cujo comandante mandou entregar no comando do batalhão em Mueda.
As latas foram depositadas no depósito de géneros e o nosso amigo vaguemestre como era péssimo em contas,
contou a menos umas latas e elas foram " aparecer " na flat número 2. Ainda bem.
Muitos anos mais tarde, num apontamento contado pelo meu amigo e Picadista António Nascimento, fiquei
a saber que ele ajudou ao transporte e nunca chegou a provar os célebres rojões russos. A vida é muitas vezes
ingrata, uns trabalham e outros saboreiam o seu trabalho.
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