A flat Nº 2
Mueda Maio de 1967 a Junho de 1968.
A
qui viveram e conviveram. durante cerca de 14 meses, operacionais
e não operacionais.Um mecanico, um transmissões, em enfermeiro, um vaguemestre,
e os restantes pertenciam ao grupo do mato.
Quase todas as semanas havia festa, com os alimentos fornecidos pelo
nosso amigo, e vaguemestre, Francisco Ribeiro.Motivos para que acontecesse
não faltávam, , no entanto era vulgar acontecer festa
pela festa.Havia, quase sempre, convidados quer do pessoal conhecido,
quer das tropas especiais que sempre existiram em Mueda. O Adolfo, aqui
vai um abraço para ti onde te encontres, mais um Furriel do esquadrão e
o Afonso, este do Pad, eram os cantores sempre acompanhados á viola e
muita cerveja.Tudo isto terminava, obviamente, pela manhã, sendo rarissimas
vezes ultrapassada a rigorosa disciplina militar.
Certo dia, estáva na escala para sargento de dia, ao acordar senti uma
forte dor no peito, o que me impedia de andar e de me apresentar ao serviço,
tendo pedido a um amigo para comunicar tal impedimento.Como não me sentia
melhor, as dores aumentaram, fui levado ao hospital e no regresso soube que o
sargento ajudante do batalhão tinha dito " O pessoal da flat 2 passa a noite nos
copos e depois não se apresenta ao serviço ". Quando , passados alguns dias, o
problemas de saúde ficou resolvido fui falar com o dito " gajo " e comuniquei-lhe,
com o consentimento dos meu amigos, que ele nunca mais estaria presente em
festas de aniversário dos Furrieis, que eram sempre organizadas na secretaria
da companhia, fazendo-lhe realçar que estando eu aqui obrigado
nunca me tinha " baldado " a nenhuma operação ou serviço ao quartel.Até á saida
de Mueda, foi pessoa que nunca mais falei.Passado um ano e já no barco de
regresso a Lisboa, o nosso olhar cruzou-se , mas apenas isso.
Claro que houve algumas vezes, poucas, excessos, e até com manifestações
exuberantes, no entanto nunca, que me recorde, em vésperas de grandes operações.
Outra ocasião, também de festa, o meu amigo Francisco Ribeiro , vaguemestre,
estando um pouco alegre, meteu-se na cabeça de se apresentar ao render da guarda,
não estando de serviço.Coube-me a missão de tentar convence-lo a desistir de tal acto,
até porque estava apenas vestido de cuecas e apresentava-se de arco e flecha.Armado,
lá isso estáva, mas o problema é que não estáva uniformizado.............
A vida naquela pequena comunidade sempre correu bem. A saída para operações,
era , regra geral, feita durante a noite ou de manhã muito cedo e por vezes os
preparativos eram executados mais ou menos em silêncio, outras vezes com bastante
ruido, o que obtinhamos como resposta, daqueles que ficavam, uma reação verbal
que faziam corar os nossos familiares, se eles os ouvissem.
O tempo foi passando entre operações e patrulhamentos e já se fala em " Sul ",
quando se aproxima mais uma operação, desta feita com uma companhia de comandos,
cujo objectivo era um assalto a uma base da Frelimo.Os preparativos começam, como
habitualmente, quando ouvimos alguém a dizer " VOU CONVOSCO ".Voltámo-nos
imediatamente para trás quando vimos o nosso amigo Ribeiro todo aperaltado com G3,
cartucheiras e granadas.Ainda tentámos retirar-lhe a ideia da cabeça, quando chegámos
á conclusão que nada havia a fazer, pois ele queria demonstrar solidariedade connosco,
então conselhámo-lo para levar determinadas botas e meias, enfim o que seria normal
para nós, já habituados a tais andanças.
Saimos após o jantar, com noite sem lua, lá fomos nós em " bicha de pirilau " a
descer para o Vale de Miteda.Era bastante dificil o contacto visual com o camarada da
frente, tal era a escuridão.Toda a noite foi assim percorrida sem parar.Ao amanhecer
paramos um pouco para o mata-bicho e então aproveitei para me inteirar , junto do
nosso novo companheiro, como ele estáva, respondendo-me que tudo estáva bem.
lá continuámos no mato durante 4 dias e finalmente depois do objectivo cumprido ,
aproxima-se o regresso que foi efectuado fora dos trilhos, a corta mato, por razões
de segurança.Todos já sabiamos como é penoso tal caminhada, no entanto para o
nosso camarada e amigo Ribeiro o problema começou precisamente aí.Por vezes saia
da minha posição da coluna e vinha ter com ele para o animar, dizendo-lhe que o
pior já tinha passado, no entanto era notório que a situação ia piorando.Tinha um
aspecto cansado,também não era para menos, e em desespero queria tiar as botas
e caminhar descalço.Perante este cenário não tive alternativa e tirei-lhe a G3,
regressando com duas ao ombro.Regressei bem armado e mais uma vez chegámos
á flat Nº 2 .Já não me recordo se nesse noite houve festa, o que não é importante,
mas se houve o nosso amigo Francisco Ribeiro também participou nela.
José Fernando Pascoal Monteiro ( Ex Furriel Miliciano )
Linda-a-Velha, Agosto de 2011
Regressar ao cantinho do Monteiro