Hoje vou dormir á pista do AM de Mueda
Jantamos mais cedo e o pelotão forma em frente da caserna, a que se junta um enfermeiro e um
radiotelegrafista. Como saimos a pé, a formação é a habitual bicha de pirilau. Inicia-se a marcha, passamos
a porta de armas e viramos á esquerda. Armas na vertical, com puxada da culatra atrás para introdução de
munição na camera. Pouco depois da engenharia, e antes do China, viramos á direita em direcção ao AM.
Ao fundo ouve-se barulho da presença dos militares deste ramo e os comentários não se fizeram esperar, tais
como " aqui é que se como bem " ou ainda " também têm cervejas muito baratas ". Continuamos a nossa
caminhada até encontrarmos a pista e os calhambeques - Daimler -, que a patrulhavam. Paramos para a habitual
conversa de circunstância. Continuamos quase até ao final da pista e foi decidido quer era ali que passariamos
a noite e o radiotelegrafista comunicou que tinhamos chegado ao objectivo. Não havia necessidade de fazermos o
circulo e cada um escolheu o seu local para a noite.
Com o avançar das horas, as vozes de fundo , vindo da força aérea, começam a desaparecer e preparamo-nos
para passar a noite, quando, de repente, se ouve um urro de leão que gela a noite. Nunca tinha ouvido tal som, nunca
tinha estado em tal circunstância. Ali se encontra um pelotão, cerca de vinte homens armados, não viamos o leão e
ao segundo urro, ala que se faz tarde e viemos tentar dormir já muito perto das instalações militares. Pela manhã, já
a caminho do quartel, em conversa com os camaradas das Daimler soubemos que aquele local era frequentado por leões
e tinhamos feito muito bem porque os ataques de leões podem provocar o panico e muita gente a disparar
indiscriminadamente era muito perigoso.
Foi a primeira vez mas não a última, pois nas outras patrulhas nocturnas que fizemos na picada que vai para
Miteda e Nangololo era frequente ouvirmos os leões.
Regressamos ao quartel a tempo do " mata-bicho " . Já tinha presenciado a dispersão de dois pelotões perante
um ataque de abelhas, hoje foi a experiência com os urros do leão. As abelhas deixaram marcas fisicas os leões
deixaram marcas na memória.
Linda-a-Velha, Fevereiro de 2018
José Fernando Pascoal Monteiro ( Ex- Furriel Miliciano )
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