O dorminhoco
Mais uma saída, de Mueda, para operações no Vale de Miteda. Dois grupos de
combate, entre eles o meu. Preparativos feitos, água, rações de combate, armamento e
munições para G3, aí vamos nós para os unimogs e somos integrados na coluna do esquadrão
de cavalaria que já nos esperava na "avenida" em frente ao quartel. Fomos na direcção dos cães de
guerra e começamos a descer, passando pelas águas , pela ponte e pouco depois das bananeiras toda a
coluna pára para nos apearmos e fomos , á direita, em direcção á mata. Em formação habitual a chamada
"bicha de pirilau". Como o dia começava a clarear e ainda estavamos longe do objectivo, optámos pelo
corta-mato, que sendo mais penoso e barulhento, nos daria melhor protecção.
Continuámos assim todos o dia, com as secções da frente a mudarem continuamente, para poder
descansar o homem que ia á frente com a catana. Nesse dia apenas descansamos para almoçar, recomeçando
na mesma caminhada até perto do cair da noite,Tinha sido um dia verdadeiramente esgotante e preparámo-nos
para passar a noite.Como habitualmente, formámos um circulo e cada pelotão designou as sentinelas e os turnos.
Eu, por hábito, como não conseguia dormir continuei pela noite fora a percorrer o circulo e vigiando quem deveria
estar acordado. O tempo foi passando, e quando o nascer do dia começou todos nos preparamos para sair dali e
tomar o pequeno almoço noutro local.Sabiamos que ainda nos faltava um dia de caminhada para chegarmos ao
objectivo, por isso já não fomos a corta-mato e caminhamos , continuando na nossa formação inicial mas com
maior distancia entre nós, especialmente ao passarmos por campo aberto. quando alguém dá um grito e diz
" Falta um ". Tudo para imediatamente, e por consenso entre os graduados decidimos, voltar atrás ao local
de pernoita. Não seria dificil encontrar tal local, pois como iamos evitando os trilhos, o terreno tinha ficado
marcado pelas nossas botas. Assim foi, mal chagamos ao local, do dia anterior, lá estava o nosso camarada que
teve o bom senso de aguardar no mesmo local por nós. Aquela responsabilidade pertencia ao Furriel responsável
pela secção, que deveria contar os homens antes de nova caminhada.Toda aquela situação terminou numa grande
risota e o nosso camarada desculpou-se com o cansaço do dia anterior e que tinha adormecido profundamente.
Entre a malta, claro que ficou como o "dorminhoco". Não pertencia ao meu pelotão, penso eu que já passou
muito tempo, mas nunca mais ouvi falar em tal acontecimento.Ficou, para ele e para todos, como mais um exemplo
do que pode acontecer em tais circunstâncias.
Linda-a-Velha, Abril de 2016
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