Desafio:
Utilizando a ferramenta de Escrita Criativa “intertexto” (frases existentes noutro texto), construir um texto novo.
Este poema é uma homenagem ao soldado do Batalhão de Caçadores 1916, Hélder Feitais Pereira, que em Mueda (Moçambique) foi atingido por um tiro de uma G3, empunhada por um camarada e amigo de infância, numa estúpida brincadeira dentro da caserna. O dia em que assisti à agonia desse soldado, jamais o esquecerei…
Transcrição dos poemas-tema para o texto:
No plaino abandonado
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
Que a morna brisa
aquece
De balas trespassado,
De
varas trespassado
- Duas de lado a lado -
- Duas, de cada lado –
Jaz morto,
e arrefece.
Jaz
exposto e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue,
Raia-lhe a farda o
sangue
De braços estendidos.
Da quádrupla função.
Alvo, louro, exangue,
Nórdico mouro exangue
Fita com olhar langue
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
O que ainda tem na
mão
Tão jovem! Que jovem era!
Que varonil quimera!
Agora, que idade tem?
Agora, que vara tem?
Filho único, a mãe lhe dera
Filho único, a mãe lhe
dera
Um nome, e o mantivera -
Um
nome, e o mantivera:
«O Menino de sua Mãe»...
O menino de sua mãe.
Caiu-lhe da algibeira
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
A lapiseira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
Dera-lhe
o pai. Está inteira
E boa a cigarreira.
E boa a lapiseira,
Ele é que já não serve(...)
Ele é que já não
escreve(…)
Fernando Pessoa
Mário Cesariny de
Vasconcelos
In Poesias
In
a Virgem Negra
In Memoriam
Daqueles que a maldita guerra
Destruiu na juventude
Como se fora uma fera,
Vejo-o, no olhar que desespera,
Pálido, inerte, sangrando.
Tão jovem! Que jovem era!
E o destino que encerra,
Tanta, tanta atrocidade,
Levou-o a cair por terra
À bala que lhe coubera
Dum amigo da mocidade.
Tão jovem! Que jovem era!
Jaz morto e arrefece
“O Menino de sua Mãe”!
E o amigo enlouquece
Pelo acto irreflectido.
E de alma, destruído,
Quisera morrer também!
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