O meu amigo queria ir para os comandos
Quartel do CISMI em Tavira, finais de Março de 1966.
Estávamos quase no final da recruta, quando apareceu no quartel um grupo de oficiais comando
a incentivar-nos para nos alistarmos naquela tropa especial.Os adjectivos proliferaram tais
como "verdadeira tropa de combate","tropa para os homens de barba rija" e mais, sempre com
com o objectivo de nos fazer inscrever.
Decidido e convicto, eu, disse que não, acontecendo assim com a grande maioria do meu
pelotão.Um dos meus amigos,que também dividia o quarto fora do quartel,disse-me "Monteiro, vou
preencher a ficha", dando-lhe como resposta imediata " És doido varrido, não faças isso".
Sabia bem aquilo que lhe estáva a dizer, pois apesar do meu amigo sêr uma pessoa decidida,
não era, no aspecto fisico,muito bem dotado tanto que nas marchas das sextas-feiras era eu
que na parte final lhe leváva a mauser, para que assim ele não desistisse e então ficaria
sem o fim de semana.O meu amigo estáva absolutamente irredutivel, ainda invoquei algumas
histórias que normalmente não se devem referir, no entanto sem resultado e tive como resposta
"Vou sêr comando".
Passados dois dias, apareceram novamente os oficiais comando para então fazerem as provas
aos inscritos.Entre elas havia,salto ao galho,passagem no pórtico,prova de combate e
agressividade e finalmente marcha de resistência.Entre elas aquela que eu mais temia,para
o meu amigo, era a de marcha e resistência, já pelos seus antecedentes.
Como é obvio fui vêr as provas, como tantos outros, e o meu amigo lá foi passando bem.Na
prova de combate e agressividade, coisa que eu e todos nós não fazia ideia do que era,deram
um par de luvas de boxe ao meu amigo e ao outro inscrito.Aquilo começou bem para ambos, pois
como estávam receosos e não se queriam magoar, cada um mais fazia festas na cara do outro.Quem
não gostou foi o oficial comando que foi junto deles ameaçando-os com a não inclusão no curso.
A partir daí, aquilo começou a sério, o opositor do meu amigo deu-lhe um soco, um pouco mais
violento, este não gostou e ripostou com outro ainda mais violento.Nesta altura estáva convencido
que iria perder um companheiro para os comandos,pois ele estáva a demonstrar excelente
combatividade, quando de repente o meu amigo recebe um violento soco e fica prostrado.Todos nos
aproximamos mas a recuperação foi rapidissima, levantou-se e disse "Isto não é para mim",
já não chegando a ir á marcha de resistência.
Terminou a recruta e continuámos na especialidade,no mesmo pelotão, continuando,
também, a levar a arma dele , na parte final das marchas de sexta-feira.
José Fernando Pascoal Monteiro ( Ex-Furriel Miliciano )
Linda-a-Velha, Agosto de 2011
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